quinta-feira, 28 de julho de 2011

Minha Mãe, Meu Mundo

De repente, de um lugar bem quentinho e confortável, eu nasci.

Você me trouxe ao mundo e me deu o bem mais precioso de todos: minha vida.

Quando cheguei aqui, recebi de você tudo de que eu precisava.

O toque da sua mão sobre o meu corpinho frágil e precisando de calor.

Seu amparo essencial para aplacar minha angústia de estar no mundo.

Sua fala doce e sonora dando sentido ao caos que me rodeava.

Que paz e que calma me traziam as eternas idas e vindas da sua presença confortadora.

A sutileza dos seus passos leves e seu olhar atento a embalar meu sono nos primeiros dias da minha vida.

Só você, Mãe, foi capaz de compreender meu choro quando eu ainda não conhecia as palavras.

Se eu pudesse recompensar um pouquinho as inúmeras noites em claro que você passou...

Toda a dedicação nos dias consumidos entre fraldas, banhos e massagens para minimizar minhas crises de cólica.

A paciência e a constância do seu amor desmedido nas mãos sempre prontas para lutar contra as doenças tão comuns...

Sei que nessas horas um único sorriso meu era suficiente para revigorar energias e alegrar sua alma.


Mas hoje eu queria achar uma forma de agradecer à altura tudo o que você fez por mim.

Só não sei ao certo como achar as palavras.

E mesmo que fosse craque em números, eu me perderia na aritmética desse amor...

Que multiplica forças para atender minhas urgências, mesmo no auge da exaustão.

Divide sua atenção sem deixar que nada escape ao seu coração amoroso.

Subtrai meus medos inspirando-me confiança com um simples olhar ou abraço acolhedor.

Soma em cada gesto singelo e cotidiano um jeito de fazer com que eu me sinta cada dia mais forte.

Como retribuir o riso largo e afetuoso a me ensinar a descobrir a alegria de viver nas primeiras cantigas e brincadeiras?

Seu jeito único ao soletrar comigo as primeiras palavras e a habilidade que você tinha para me traduzir como ninguém.

Sua sabedoria ao me ensinar a rezar e a descobrir na oração o alívio para minhas aflições.

Que outros braços serão tão generosos quanto aqueles a me incentivar a engatinhar, andar, correr?

E, é claro, sem desviar o olhar um só instante!

Quem mais, Mãe, vai me tirar para dançar fora de hora, fazendo explodir em alegria as tardes comuns ou os dias cinzentos?

Realizar meus pequenos desejos reinventando receitas: - A lasanha sem queijo. – O macarrão sem molho. – O tomate sem semente. – O bolinho de chuva sem canela.

Que outra pessoa vai encontrar beleza nos meus erros, corrigindo tudo com ternura, sem jamais me diminuir?

Quem, além de você, saberá o momento exato de dizer não para me proteger de mim mesmo?

Só você, Mãe, tem a capacidade de ser dura e doce ao mesmo tempo!

Único ser capaz de aliviar qualquer dor sem remédio!

Mas aos poucos eu cresci, Mãe, ainda que para você eu continue sendo a mesma criança.

Por que será que os filhos nunca crescem aos olhos das mães?

Tive de atender ao chamado do mundo lá fora, enfrentar o ambienta desconhecido e tantas vezes hostil da vida.

Ainda bem que percebi logo o seu poder de estar ao meu lado mesmo quando estava longe fisicamente!

Sua capacidade de ouvir no meu silêncio tudo que eu não conseguiria dizer mesmo aos gritos.

Sua intuição para adivinhar num olhar aflições e inseguranças, encontrando sempre a frase certa para dissipá-las.


Às vezes acho que você sabe mais de mim do que eu, conhece meus segredos mais íntimos e até verdades que eu ainda vou descobrir sobre mim.

Não há segredo que resista ao olhar profundo de uma Mãe!

Sei que algumas vezes te deixei preocupada.

Mas você soube suportar com amor meus arroubos de impensada arrogância juvenil.

Queria pedir desculpas por isso. Desculpa, Desculpa, Desculpa.

Nos momentos que eu achava que você estava mais errada era frequentemente quando mais você tinha razão.

Quanta sabedoria em cada fala simples que eu nem sempre soube reconhecer!

Se soubesse o quanto havia de tolo nas minhas malcriações...

Eu teria te abraçado mais, pedido desculpas outras vezes, ouvido com mais atenção os seus conselhos.

Mas sua capacidade de perdoar sempre foi maior.

Foi assim que aprendi muito do que sou, Mãe. Olhando e imitando seu jeito exemplar de estar no mundo.

Você me ensinou tudo o que eu precisava saber, me ensinou a ser quem eu sou.

Porque além de me nutrir, amparar e cuidar você educou minha alma.

Você plantou no meu coração tudo que eu precisava para Ser...

Pureza para enxergar os pequenos milagres diários da vida.

Calma para saborear os momentos mágicos e doces sem esvaziá-los de todo.

Coragem para suportar as pequenas e grandes dores do mundo.

Disciplina para buscar meus objetivos sem perder o rumo.

Paciência para não me debater em vão contra a vontade do tempo.

Desenvoltura para dançar sem muitos tropeços os diversos ritmos que a vida toca.

Generosidade para repartir com os outros o pouco ou o muito que a existência me deu.

Inteligência para aprender a ler o que não está escrito.

Perseverança para superar os obstáculos tão comuns em qualquer caminho.

Prudência para fazer as escolhas certas nos momentos críticos.

Compaixão para me irmanas com os outros quando a vida estiver difícil para eles.


Humildade para respeitar meus limites e pedir ajuda nos momentos difíceis da vida.

Fé para acreditar que, se eu fizer o meu possível, Deus fará o impossível por mim.

Bom humor para entender que a menor distância entre duas pessoas é o sorriso.

Simplicidade para encontrar a beleza nos lugares mais inesperados.

Criatividade para alcançar uma felicidade possível.

Justiça para respeitar a igualdade e a diferença que tornam a vida tão extraordinária.

Gratidão para merecer sempre as melhores dádivas do universo.

Amor genuíno a mim e aos outros para saber amar e ser amado sempre.

Sabedoria para ser adulto sem jamais deixar de ser criança.

Mas o tempo passou, Mãe, no devagar depressa do tempo...

Eu queria telefonar mais vezes, aparecer de surpresa na sua casa no meio da semana, voltar para o seu colo de vez em quando...

Mas, acredite, mesmo de longe e com a correria do dia-a-dia, você está sempre junto de mim.

Somos parte um do outro, Mãe.

Não há tempo ou espaço que desfaça esse vínculo.

Embora não expresse o amor que sinto por você sempre que tenho vontade...

Queria te dizer: “Estava aqui no meio de umas palavras, e lembrei de você”.

Eu sou a história que você escreveu na imensa narrativa da existência.

(Anderson Cavalcante e Simone Paulino – Editora Gente)

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